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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

             A consanguinidade em pombos correios.



   

       Tenho observado muitos desencontros nas informações sobre consanguinidade em pombos correios. Diversos columbófilos iniciantes nesse método, têm procurando um norte, uma referencia,  sobre acasalamentos entre pombos de um mesmo sangue, de uma mesma linhagem.

         Em 1990 me iniciei na columbofilia, em minha cidade, Divinópolis-MG, e poucos anos mais  tarde, me dediquei à prática da consanguinidade, orientado por alguns artigos sobre esse tema, publicados pelo jornal "Mundo Columbófilo" na primeira metade dos anos 90, artigos estes elaborados por J. P. Stosskopf e principalmente, Steven Van Breemen que se baseou e divulgou os estudos de seu amigo, o professor húngaro, Alphons Anker.

      Com a finalidade em divulgar alguns critérios, conceitos e procedimentos sobre consanguinidade,   exponho aqui, numa descrição simples e resumida, o teor desses artigos, lembrando que não sou biólogo, muito menos zootecnista, geneticista, nem qualquer outro tipo de "ogos" ou "istas" nessa matéria..
Anoto também o fato de, apesar de ter lido inúmeros livros sobre columbofilia, nunca li algo tão aprofundado sobre consanguinidade em pombos correio como nos artigos dos autores acima mencionados.

           Inicio essas minhas memórias com um alerta: importante: não confundir linhagem, com origem dos pombos, ou seja, confundir linhagem com a procedência dos mesmos. Vemos muito companheiros dizendo: "Acasalei meus dois Fabrys para fazer consanguinidade". Na verdade, ao contrário do que se deseja, pode-se estar fazendo cruzamentos, e não consanguinidade, caso não haja grau de parentesco dos sangues envolvidos nos acasalamentos para esse fim, apesar de serem os mesmos, oriundos de um mesmo columbófilo, de um mesmo plantel.

       A maioria dos grandes columbófilos, possuíam ou possuem mais de uma linhagem em seu plantel, então, acasalar pombos sem conhecer os seus pedigrees é um erro, pois devemos antes de tudo, verificar se o acasalamento realmente será entre pombos de mesma linhagem, caso estes não tenham nenhum parentesco, estaremos fazendo cruzamento e não consanguinidade.
Acasalar apenas pelo fato dos reprodutores originarem-se de um importante criador campeão, não garante que estejamos reproduzindo nossos pombos em consanguinidade.


           Cruzamentos: união entre indivíduos de sangues diferentes, linhagens diferentes - Heterozigose 

           Consanguinidade: união entre indivíduos de um mesmo sangue, mesma linhagem - Homozigose

           A consanguinidade é a cultura entre membros de uma mesma família.

           Priorizaremos portanto, em consanguinidade, uma família onde houver muitos bons pombos.

      Conforme os artigos pesquisados, importante saber também que, em consanguinidade, os consanguíneos herdam  tando os defeitos quanto as qualidades do pombo que se quer perpetuar o sangue, portanto, muito cuidado na escolha desse pombo a se destinar a tirar filhos consanguíneos, pois seus defeitos podem aparecer triplicados, quadruplicados pela consanguinidade, anulando assim, suas qualidades.

          As características de cada pombo são múltiplas, como bem diz,  Dr. Vet. J. P. Stosskopf:

 "As qualidades de um pombo são as que estão à vista, as que apalpamos é o FENÓTIPO:
 (Grupo Um): Ossatura (comprida, curta, profunda, baixa, etc), a da plumagem (cor, forma das remiges, espessura da plumagem de abertura), as características do olho, etc. 

Existe também as características ocultas (recessivas), que podem reaparecer quando existem no cônjuge, é o GENÓTIPO: (Grupo Dois), é a qualidade desportiva." 

           No caso específico dos nossos pombos consanguíneos, esses aspectos genótipos (Grupo dois), se manifestam na capacidade de orientação, na inteligência, vontade, determinação, velocidade, tenacidade para retornar à sua casa.

        Quando acasalamos macho e fêmea de um mesmo sangue e linhagem, os filhos consanguíneos, recebem dos pais tanto o material genótipo, quanto o fenótipo, porém, estes filhotes consanguíneos herdam dos pais mais acentuadamente o seu genótipo (Grupo Dois), ou seja, a parte responsável pelos sentidos, inteligência e capacidade de orientação, tenacidade e capacidade de voar melhor em determinado estado atmosférico, essa última qualidade, é essencial se transmitir aos seus descendentes.

             
         Uma forna mais direta para se praticar a consanguinidade, um modo mais concentrado é acasalar pais com filhos.
           Uma forma mais branda (mas nem tanto), é acasalar avô com neta; avó com neto; tio com sobrinha; tia com sobrinho.
      Já o acasalamento entre dois meio irmãos, é uma maneira bem menos concentrada de consanguinidade.

        Outro fator que me chamou muito a atenção, a qual pude confirmar e constatar nas minhas experiências direcionadas pelos artigos propostos, é não ser possível programar o grau de consanguinidade que desejamos, pois a divisão dos cromossomos é aleatória, pode se manifestar a consanguinidade nas maneiras:

- Em maior quantidade em um dos filhos do que no outro.

- Ambos os filhos apresentarem um grau de consanguinidade mais elevado (mais concentrada)..

- Ambos os filhos apresentarem um grau de consanguinidade menos elevada ( menos concentrada).

          Podem os filhos apresentarem um nível de consanguinidade muito acentuada, como acontece na na maioria dos indivíduos apurados em consanguinidade entre pais e filhos, como também podem apresentar grau de consanguinidade mediano ou bem pequeno, nesse dois últimos casso, se dá a consanguinidade menos direta, típica consanguinidade  feita entre meio irmãos ou entre primos.

           Como saber se um pombo é realmente consanguíneo?

           O filho consanguíneo é debilitado fisicamente. O consanguíneo é um pombo que não entra em forma, é sempre mais magro, a coloração de suas penas é opaca, pouco brilho, ele revoa menos, não acompanha o resto do bando, sempre procurando precocemente retornar ao telhado do pombal após um simples voo de alguns minutos pela vizinhança. O consanguíneo possui imunidade baixa, passível de adquirir doenças mais facilmente ao contrário dos outros pombos gerados em cruzamentos, ou aqueles que, mesmo sendo filhos de pais de uma mesma linhagem, não apresentam grau de consanguinidade suficiente.

        O filho consanguíneo com pouco grau de consanguinidade, se manifesta mais saudável, apresenta ter energia e vigor, ao contrário dos irmãos, com grau de consanguinidade elevado. 

             O grande erro que ocorre, na prática da consanguinidade em pombos, é que a grande maioria dos columbófilos, (aqui no Brasil, a ENORME maioria), desconhecendo essa importante reação genética acima, eliminam, sem saber, o seu pombo mais consanguíneo, por achá-lo debilitado, fraco e feio, preferindo o seu outro irmão menos consanguíneo, porém, mais forte e saudável, para metê-lo na caixa, quando o mais correto seria preservar o mais consanguíneo para a reprodução, ao contrário de eliminá-lo, pois este transmite muito mais informações genéticas da linhagem  a que se quer preservar (consanguinidade).

        Fiquemos atentos aos indicadores da consanguinidade encontrados nos novos indivíduos apurados, preservando os mais consanguíneos e concursando os irmãos com consanguinidade irrisória, se desejarmos.
       

              Baseado nesses conceitos sobre consanguinidade, pratiquei a consanguinidade, tanto mais direta, quanto a menos severa.
Me dediquei portanto à consanguinidade mais afastada, extraída da reprodução entre meio-irmãos, esses podem até competir em concursos não muito longos, pode-se melhor administrá-los no pombal, guardá-los, conservá-los, para a reprodução, pois são menos suscetíveis de adquirirem doenças, são mais resistentes e menos frágeis fisicamente que os consanguíneos mais diretos.

             Um exemplo:

          Em minha cidade, existiu um ótimo reprodutor consanguíneo, o "Camaleão", que cito como exemplo, pois foi o consanguíneo mais famoso que por essas bandas aqui  apareceu, pelo menos, nunca ouvi falar em outro:
 "Camaleão" foi adquirido pelo amigo e xará, José Luiz "Kaburé", junto ao Sr. Amir Matos de Belo Horizonte.
        Camaleão de anilha 93.090/89, tinha esse nome devido à sua cor, uma cor singular, nunca vi outro pombo com essa tonalidade. Era esverdeado, cor de pedra ardosia, na coloração mais escura desse tipo de pedra. Seus pais eram:

Pai do Camaleão: 1131/89 Azul guia branca (reproduziu no primeiro ano de vida).
O pai do 1131/89, o avô do Camaleão, era o Gravata 575/80, do Sr. Aureliano-BH.

Mãe do Camaleão: 1983/86 Escama do Dr. Bernardo-BH (irmã da Itaberaba do Dr. Bernardo).

        Camaleão não dava filhos ruins. Sua consanguinidade era forte, era filho de mãe com filho (1983/86 era mãe de seu pai, o 1131/89).

       O Camaleão nunca fez nenhuma prova, nunca foi mandado em concursos de voo, ele não conseguiria voar 1 km  sem pousar várias vezes para descansar.
Eu o adquiri em 1997 e ele viveu pouco mais de dois anos em minha casa, amanheceu morto, sem sinais de doenças, estava bem no dia anterior à sua morte.
Camaleão era um pombo fraco, magro, cor opaca, sem forma... certa vez fugiu e custou a voar para cima de minha casa, e quando pousou, estava com o bico aberto, cansado pelo "esforço" de voar alguns metros acima e pousar no terceiro pavimento, onde mantenho dois pequenos pombais de voo, provando assim como era tão acentuada sua consanguinidade.

        Quando em cruzamentos, Camaleão transmitia tanto os fatores genótipos, quanto fenótipos em igual e maravilhosa proporção. Seus filhos eram fortes, cheios de energia e vitalidade, inteligentes. Muitos descendentes seus foram campeões de provas, nas mãos de vários criadores e até hoje, busca-se preservar sua linhagem.

         Para deixar bem claro:
   
         
            "Não se compete com os pombos  comprovadamente consanguíneos"


          Motivo: Os pombos em consanguinidade acentuada,  não têm força muscular, vitalidade para competições de voo, seja ela de que distância for. Os consanguíneos, não têm vitalidade, força física, não entram em forma, sua plumagem é opaca, sem brilho, são geralmente magros, não engordam. Em contrapartida, possuem muita inteligência, seu sentido de orientação é apuradíssimo, mas isso não basta para os concursarmos, falta-lhes  a parte física, a boa forma.
O motivo de se criar consanguíneos, é o de perpetuar determinada linhagem, fixar em seus descendentes as características positivas de um grande voador,  formar assim futuros reprodutores/voadores, por isso temos que ser criteriosos na escolha desse crack ao qual nos propusermos a extrair filhos consanguíneos.

       Caso algum pombo "consanguíneo", for jogado em concurso, principalmente em meio fundo  ou fundo, com exito, podemos duvidar de sua consanguinidade,

            A  maneira a qual pratico a consanguinidade:   (Consanguinidade entre Meio Irmãos)

             Pombo com ótimas qualidades:( Ver Grupo um e Grupo dois acima (macho ou fêmea).
             Vamos nomeá-lo, como exemplo,   "A" sendo macho (M)

         Acasalo "AM" com duas fêmeas (F), "BF" e "CF"  Importante: sem nenhum parentesco ou linhagem entre eles três.

AM x BF =  ABM
                       
AM x CF = ACF

Então:

ABM x ACF = WF (consanguíneo Fêmea,  (como poderia ser um macho), se observado as características de um consanguíneo acima destacado.

Se desejo voltar o sangue (apertar mais a consanguinidade), acasalo, novamente  "AM" com uma terceira fêmea "DF"  Importante: Fêmea sem parentesco ou linhagem nenhuma com os pombos anteriormente envolvidos:

AM x DF = ADM

              Acasalo então consanguíneo "WF" com  ADM 
WF x ADM = WW   (consanguíneo com grau mais apurado, macho ou fêmea)


*Abaixo, se encontra a tabela de consanguinidade feita por  Steven Van Breemen no seu "Klaren 46", com algumas de suas observações:


Tabela 1 a percentagem de genes "Klaren 46":
Par: Klaren 46 emparelhado com Hen X
Dá os filhos: 50% de Klaren 46 e 50% de "X"
Netos: 
A. Informação genética razoável: 10-15%
B. Informação genética boa: 25% 
C. Informação genética super: 30-50%
Eu aconselharia você a memorizar a Tabela 1. Ela mostra claramente a redução que você obtém quando os cromossomos são divididos.
Naturalmente, os netos sob "C" são as aves mais adequadas para continuar a reprodução. Eles evidentemente mostram a maioria dos sinais de seu valor que herdaram, a maior porcentagem de genes do "Klaren 46" .
Tabela Dois o calendário de acasalamento de "Klaren 46" : netos.
Pais: 5 netos de "Klaren 46": A, B, C, D e E.
Acasalamentos: A x B e C x D. O neto E ainda não é usado.
1ª Geração par A x B: filhos nrs 1,2,3 e 4.
1 ª Geração par C x D: filhos nrs 5,6,7 e 8.
Em seguida, uma combinação dos filhos de ambos os pares dos pares A x B e C x D:
2ª Geração de acasalamento: 
A. 1x5 dá os jovens: 9 e 10.
B. 2x6 dão os jovens: 11 e 12.
C. 3x7 dão os jovens: 13 e 14.
D. 4x8 dão os jovens: 15 e 16.
3ª Geração de acasalamento: 
9 x neto E.
Meu cronograma acima começa com 5 netos, que tinham "Klaren 46" como o único ancestral comum. A segunda geração foi emparelhada com um A, B, C, D ou, o que poderia até ter sido melhor, com o sobrinho restante E.
A endogamia com "Klaren 46" é completada com a terceira geração.
Como você pode ver, um pouco de endogamia. Isto é ainda mais porque o rebanho de Desmet-Matthijs também tem sido endogâmico. E o temido problema da degeneração? Ao trabalhar de acordo com uma programação tão concentrada de endogamia, como fiz durante vários anos, você logicamente esperaria notar sinais de degeneração. Mas até agora tudo bem. Na verdade, o oposto parece ser verdade: os olhos melhoraram de cor e têm mais pigmentação, com pupilas tão pequenas quanto pin-heads. Não havia nenhuma mudança perceptível na qualidade do músculo enquanto a configuração permaneceu a mesma bem. Não observei sinais externos de degeneração. A prole tornou-se muito melhor, como reprodutores, como nós nos concentramos mais em "Klaren 46". Também foi muito bom perceber que os pombos, ao mesmo tempo têm executado bem.


            Acima, iniciando a consanguinidade a partir de netos do Klaren 46, Breemen afirma não haver degeneração.

                                     O acasalamento entre irmãos diretos gera consanguíneos?

           Segundo o Dr.  Vet. J. P. Stosskopf, "O acasalamento entre irmãos, dá uma proporção muito boa de bons pombos, são bons reprodutores em particular, quando acasalados com um cônjuge saído de irmão com irmã de outra origem e o cruzamento de irmãos em terceiro e quarto graus é uma experiência muito interessante de ser feita".
            
                  Algumas observações e conclusões sobre as teorias de consanguinidade dos Prof. Anker e Stosskopf 
           
           
             * Quanto mais o nível de consanguinidade se acentua, mais debilitado fisicamente será o pombo. Em casos extremos, suponho que, esses indivíduos nem chegariam a se reproduzir, devido à falta de vigor físico. A consanguinidade pode causar doenças ( degenerações), pois quando os sangues são semelhantes isso causa um erro sobrecarregante no DNA (cegueira, surdez congênita,  e displasias ósseas etc.).

            * Pombos consanguíneos não tem aptidão física para os concursos, são fisicamente frágeis e a razão em se praticar a consanguinidade em pombos correio, é a de preservar linhagens campeãs.

            * Para os concursos, usamos somente os filhos dos consanguíneos, que herdarão dos pais o seu genótipo e seu fenótipo em parte equilibradas.

          * Nas redes sociais, vi muitas fotos e muitos vídeos de pombos, postados pelos seus donos e estes dizendo serem os mesmos, consanguíneos, excelentes voadores, pombos estes saudáveis, robustos, apresentando ótima forma, plumagem impecável e segundo seus donos, campeões de provas de meio fundo e fundo. Apesar de observá-los através de fotos e filmagens, fica nítido, pelas  imagens e pelas suas ótimas performances, declaradas pelos seus donos e demonstrando ótima forma física, saúde, força, vitalidade, que tais pombos não são consanguíneos. Não duvido de suas conquistas, mas de sua consanguinidade.

             * Não se pode programar o grau de consanguinidade, 25%, 30%... 50%... A informação genética que o novo individuo recebe do pai e da mãe é variável de indivíduo para indivíduo.

              * Por mais  que se tente aumentar o grau de consanguinidade, este nunca chegará a 100%, sempre se alcançará o grau em seu extremo máximo de 99%. O 1% do sangue diferente sempre estará representado no indivíduo consanguíneo (Imbeeding), portanto não existe "pombo puro", como dizem alguns: "Puro Jansen"... "Puro Tonecas da Feira"...  eu mudaria o termo "puro", por "Origem": "Origem Jansen"... "Origem Tonecas da Feira".

                * A única forma de se conseguir os 100% seria através de clonagem.

           Já li bastantes livros sobre columbofilia, todos trazendo comentários superficiais sobre consanguinidade. Os artigos pesquisados, abaixo destacados foram os únicos aos quais me deparei, realmente abrangentes e esclarecedores e que fizeram algum sentido na realidade do meu dia-a-dia, razão para dar créditos a eles.

                     Repito as palavras de Steven Van Breemen  ao final de seu artigo: "Muitos vão me criticar, por afirmar essa teoria de consanguinidade, mas muitos outros farão uso dela e comprovarão sua eficácia."

           
     
                                                     José Luiz Soraggi Borges


Fontes de pesquisa:

*  "A arte na criação" de Steven Van Breemen
(Artigo  publicado em 14 partes (edições), pelo jornal "Mundo Columbófilo" número 775 e seguintes, em 21/03/1994)

*  "A consanguinidade" de J. P. Stosskopf
(Artigo publicado no jornal "Mundo Columbófilo" número 725 - 28/02/1991)


                     https://www.pomboponto-ar.blogspot.com.br







Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom este documento sobre consanguinidade;